O que a pesquisa acadêmica diz sobre o efeito da transição de gênero sobre o bem-estar transgênero?

Pesquisa da Cornell University que integra o projeto “What We Know” e traduzida por Beatriz P. Bagagli.

Beatriz Pagliarini Bagagli
3 min readJan 22, 2019

Visão geral

Foi realizada uma revisão sistemática da literatura de todos os artigos revisados por pares publicados em inglês entre 1991 e junho de 2017, que avaliam o efeito da transição de gênero no bem-estar de pessoas trans. Identificamos 55 estudos que consistem em pesquisa primária sobre este tópico, dos quais 52 (93%) descobriram que a transição de gênero melhora o bem-estar geral de pessoas trans, enquanto 4 (7%) relatam resultados mistos ou nulos. Não foram encontrados estudos concluindo que a transição de gênero cause danos no geral. Como recurso adicional, incluímos separadamente 17 estudos adicionais que consistem em revisões de literatura e diretrizes práticas.

Resultados

Esta pesquisa encontrou um robusto consenso internacional na literatura revisada por pares de que a transição de gênero, incluindo tratamentos médicos como terapia hormonal e cirurgias, melhora o bem-estar geral de indivíduos transgêneros. A literatura também indica que uma maior disponibilidade de apoio médico e social para a transição de gênero contribui para uma melhor qualidade de vida para aqueles que se identificam como transgênero.

Conclusões

Abaixo estão as 8 descobertas de nossa revisão e links para os 73 estudos nos quais elas estão baseadas. Clique aqui para ver nossa metodologia. Clique aqui para obter uma página única para impressão da análise desta pesquisa.

  1. A literatura acadêmica deixa claro que a transição de gênero é eficaz no tratamento da disforia de gênero e pode melhorar significativamente o bem-estar dos indivíduos transgêneros.
  2. Entre os resultados positivos da transição de gênero e os tratamentos médicos relacionados aos indivíduos transgêneros, estão a melhoria da qualidade de vida, maior satisfação nos relacionamentos, maior autoestima e confiança e reduções na ansiedade, depressão, tendências suicidas e uso de substâncias.
  3. O impacto positivo da transição de gênero no bem-estar transgênero cresceu consideravelmente nos últimos anos, à medida em que as técnicas cirúrgicas e o apoio social melhoraram.
  4. Os arrependimentos após a transição de gênero são extremamente raros e tornaram-se ainda mais raros à medida que as técnicas cirúrgicas e o apoio social melhoraram. O agrupamento de dados de numerosos estudos demonstra uma taxa de arrependimento variando de 0,3% a 3,8%. É mais provável que os arrependimentos resultem da falta de apoio social após a transição ou de resultados cirúrgicos ruins usando técnicas mais antigas.
  5. Fatores preditivos de sucesso no tratamento da disforia de gênero incluem preparação adequada e suporte de saúde mental antes do tratamento, acompanhamento adequado de profissionais capacitados, apoio familiar e social consistente e resultados cirúrgicos de alta qualidade (quando a cirurgia é envolvida).
  6. Indivíduos transgêneros, particularmente aqueles que não podem acessar tratamento para disforia de gênero ou que encontram ambientes sociais sem apoio, têm mais probabilidade do que a população em geral de experienciar problemas de saúde como depressão, ansiedade, tendências suicidas e estresse de minoria. Embora a transição de gênero possa mitigar esses problemas, a saúde e o bem-estar das pessoas transgêneras podem ser prejudicados por tratamentos estigmatizantes e discriminatórios.
  7. Uma limitação inerente ao campo de pesquisa sobre saúde transgênera é que é difícil conduzir estudos prospectivos ou experimentos controlados randomizados de tratamentos para disforia de gênero devido à natureza individualizada do tratamento, às circunstâncias variáveis e desiguais dos membros da população, ao tamanho pequeno da população transexual conhecida, e as questões éticas envolvidas na retenção de um tratamento eficaz para aqueles que dela necessitam.
  8. A pesquisa sobre o bem estar transgênero ainda está em evolução e tem sido limitada pelo estigma histórico contra a realização de pesquisas nesse campo. Mais pesquisas são necessárias para caracterizar e atender adequadamente às necessidades da população transgênera.
Clique aqui para ter acesso aos resumos dos 73 estudos analisados pela pesquisa.

--

--

Beatriz Pagliarini Bagagli

Transfeminista e analista de discurso, pesquisa o campo de cuidado com a saúde e direitos coletivos para a população trans.